Índice de famílias endividadas chegou a 77,9%, um recorde histórico
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do
Consumidor (Peic) anual mostra que o perfil da pessoa endividada no Brasil é de
uma mulher, com menos de 35 anos e ensino médio incompleto, moradora das
regiões Sul ou Sudeste, cuja família recebe até dez salários mínimos. A
pesquisa foi divulgada hoje (19) pela Confederação Nacional do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Na série histórica, iniciada em 2011, o ano bateu
recorde: 77,9% das famílias estavam endividadas em 2022, uma alta de 7 pontos
percentuais em relação a 2021 e de 14,3 se comparado com 2019, antes da
pandemia de covid-19. O índice mais baixo foi registrado em 2018, quando 60,3%
das famílias estavam com dívidas.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, destacou que
a pandemia reverteu a tendência de queda no endividamento que era registrada
até 2019, especialmente entre os mais pobres. Segundo ele, os “efeitos
perversos” da pandemia, com o fechamento de negócios e o aumento do número de
desempregados, e no pós-pandemia, o avanço da inflação, fez com que as famílias
com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para manutenção do
consumo de primeira necessidade.
“Enquanto entre as famílias de maior renda foi a
retomada do consumo reprimido que levou a maior contratação de dívidas. Esses
fatores geraram o aumento no número de endividados em 2022 no país”, afirmou
Tadros.
Recorde de superendividamento
A Peic anual indicou que, do total de endividados,
17,6% se consideraram muito endividados, a maior proporção da série histórica.
A cada dez famílias com renda mais baixa, duas comprometeram mais da metade da
renda mensal para o pagamento das dívidas. Já entre aqueles com maiores salários,
o índice cai pela metade, o que sugere que o superendividamento está
concentrado entre os mais pobres.
“Em média, durante 2022, o brasileiro gastou, a cada
R$ 1 mil, R$ 302 em dívidas. No total, 70% das famílias comprometeram pelo
menos 10% da renda com essa finalidade. Mais de 1/5 dos endividados tiveram de
gastar, no mínimo, metade do salário para pagar dívidas”, diz a CNC.
O diretor de Economia e Inovação da CNC, Guilherme
Mercês, afirmou que é importante que sejam adotadas medidas que possibilitem
uma redução nos juros e na inflação, com uma nova âncora fiscal para a gestão
das contas públicas.
“Em mais de dez anos, nunca as pessoas se sentiram tão
endividadas, e o que a Peic demonstra é que o superendividamento é
principalmente um problema para as famílias de baixa renda. Se esse
endividamento diz respeito ao custo dos créditos e da inflação, um dos fatores
essenciais para resolver isso é ter uma economia brasileira com juros mais
civilizados, porque taxa de juros alta é sinônimo de dívidas caras, sempre”,
disse Mercês, durante coletiva de imprensa no Rio de Janeiro.
Para o diretor, programas de renegociação de
endividamento como os que estão sendo anunciados pelo governo federal são
fundamentais e “estancam as angústias das pessoas e famílias”. “Mas, em termos
estruturais, o que vai resolver esse problema é uma taxa de juros mais baixa”,
ressaltou.
Foto Destacada: Tânia Rego / Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil
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