quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Um minuto de fama nacional: o mundo das Darlenes.


A internet no Brasil avança em direção a todas as classes sociais. A penetração nas crescentes classes C e D aponta a inversão da pirâmide social, onde os mais abastados tinham total acesso. Lembro-me, que em meados dos anos noventa, exatamente no segundo semestre de 1996, fui assinante do provedor Infonet. Estava entre os cinqüenta primeiros a ter acesso à internet no estado de Sergipe.

Naquele momento a conexão era discada “web 1.0” e proporcionava para os usuários somente texto e foto, arquivos pequenos, conexão baixa e lenta, muito lenta, etc. Imagine entrar no Orkut ou no You Tube, impossível!

O portal Infonet mantinha um link de acesso para o principal e pioneiro portal brasileiro, o ZAZ. Lá se encontrava o protótipo da atual internet. Existia o sistema de busca, chat, cidade virtual, links para os principais veículos de comunicação no Brasil, etc. A proposta era ser um canal interativo, e foi! Como dizia o slogan do provedor: ZAZ, o seu canal na internet. Olha que coisa, ZAZ hoje é marca de boutique de roupa em Aracaju, localizada no bairro 13 de Julho e shopping Jardins. A criação de naming para empresas está em alta!

Só para lembrar, em 1999, o ZAZ virou Terra Networks e foi adquirido pelos grupos Telefônica, exatamente a Telefônica Interativa, da Espanha, pelo grupo de mídia RBS, por Marcelo Lacerda e Sérgio Pretto. A partir daí, surgiu um dos principais provedores do Brasil e da América Latina, Terra Networks.

Na capital sergipana os internautas da Web 1.0 mantinham o acesso através do provedor Infonet. Eram poucas pessoas e empresas que se encontravam no topo da pirâmide social e davam as primeiras surfadas na net no final do século passado. E hoje, como está o comportamento das internautas? Quem são eles? O que fazem? O que procuram? O que desejam da net?

No penúltimo Fórum Internacional de Marketing e Comunicação, o maior da América Latina, o MaxMídia, transmitido ao vivo para Aracaju no ano de 2006, no auditório Padre Antônio Melo Costa, localizado na UNIT – Universidade Tiradentes , o palestrante Brian Crotty, diretor de mídia da McCann World Group, explanou sobre o futuro digital e as tendências da mídia emergente. Ele apontou o Media Lab, laboratório localizado nos EUA, com o objetivo de pensar no futuro, nas temáticas relacionadas aos meios de comunicação, as mídias, como por exemplo, mídia em jogos, mídia móvel, TV digital, etc. Diversas perguntas apresentada pelo palestrante me intrigou naquele momento como: o que devemos fazer hoje? Amanhã? E daqui a cinco anos? Tudo o que ele explanou e pragmatizou realmente está em evidência na net nos dias atuais. Vejamos abaixo algumas citações da palestra de Brian no MaxMídia2006.

- YouTube: 2,65 milhões de usuários no Brasil, diversos produtos gerados pelo usuário, nova dimensão de conteúdo, mais organização na informação, geração de vídeos por webcam, filmadoras de baixa resolução.

- Webshots: cidade viral para a informação se transformar e chegar a diversos nichos, material executado pelo consumidor, promoções para usuário fazer seus vídeos.

- Marketing Móvel: rede de opiniões, conteúdo viral, pessoas apaixonadas por diversos temas e que criam seus grupos na internet, como por exemplo, o próprio Orkut e as redes sociais.

- Laboratório de Mídia Emergente: o Blog como visão do futuro, o usuário disponibiliza o conteúdo gerado por ele, ou não, ele tem que alimentar constantemente gerando cada vez mais informação para os leitores.

- Desafios para o futuro: forma (design) x conteúdo (informação), ter cuidado para não ser evasivo, ou invadir a privacidade das pessoas, como as novas mídias podem funcionar interagindo entre as mídias convencionais, como integrar a mídia de massa com a mídia digital e atingir uma melhor massificação, quais serão as novas mídias para os jovens, entre outras colocações.

No mês de outubro de 2008, os conhecimentos apresentados por Brian completou 2 anos. O que mudou de lá para cá? A internet está sendo exatamente o que ele disse: a Rede Globo pede para o telespectador enviar vídeos produzidos por ele, interagir em tempo real com qualquer programa da sua grade, integração de todo o conteúdo da Central Globo; da emissora Rede Globo, da GloboSat, dos jornais impressos O Globo e Extra, do portal Globo.com, da Rádio Globo, do G1.com, entre outros veículos que compõe o conglomerado Rede Globo.

Os números oriundos da internet brasileira são impressionantes para qualquer país desenvolvido. No mês de abril/2008 foram mais de 23 milhões de usuários do Orkut no Brasil. O YouTube apresentou seus dados na respectiva data acima para os brasileiros: 490 milhões de Page views, 8 milhões de visitantes/mês e o tempo de conexão é de 17,4 minutos. O número de conexões residenciais no mês de julho de 2008 é de 23,7 milhões de usuários, o número total de usuários que plugam da residência, do trabalho, das escolas e universidades, lan houses e outros ambientes é de 41,5 milhões na terra do Cristo Redentor. Em fevereiro de 2008 o número de leitores de blog no Brasil ultrapassou a casa dos 10 milhões, no mês de julho chegamos a 135 milhões de aparelhos celulares habilitados.

Atualmente a facilidade de encontrar links nos principais provedores do país para que os usuários sejam repórteres virtuais, enviando fotos e vídeos flagrados por eles no cotidiano das cidades é hoje uma realidade. Também é correto afirmar a participação dos usuários no lançamento de sites virtuais. A lanchonete Burg King do Brasil lançou a sua home page por meio de uma campanha publicitária para internet. O conceito era “A gente faz do seu jeito”, o internauta interagia online e montava seu próprio sanduíche, como os clientes fazem pessoalmente na rede de lojas. Foram mais de 140 mil interações durante seis semanas, a ação da Burg King foi sucesso total na internet brasileira.

O marketing digital mantém forte relacionamento interativo com os consumidores, é só olhar como é desenvolvida a publicidade gerada pelas montadoras de veículos e pelas empresas que trabalham com tecnologia de ponta. O internauta faz parte do processo criativo, participando de concursos de vídeos gerados por ele, sendo que o melhor comercial é exibido na televisão fechada ou na própria net. Além de torna-se profissional no campo da publicidade, o internauta ganha uma série de brindes, dinheiros, etc.

Vou deixar uma pergunta suspensa no ar, ou melhor, na rede mundial de computadores. O que os cientistas da comunicação e os internautas sergipanos desenvolvem em termo de conteúdo? Como estamos vivendo no presente momento o mundo de “Darlene”, um minuto de fama nacional, ou melhor, mundial a percepção é que os internautas estão ávidos em querer participar de tais ações de marketing digital e fazer parte dos acontecimentos.

No cotidiano os internautas enviam fotos e vídeos com os principais fatos acontecidos no estado de Sergipe ou dá própria vida particular. É uma pena, infelizmente, o universo da comunicação grotesca de Muniz Sodré e Raquel Paiva, do livro Império Grotesco, exemplifica muito claramente o que alguns internautas geram de conteúdo. Como vivemos na geração Web 2.0, com a forte penetração da classe C e D na rede mundial de computadores, posso afirmar que a net hoje também desenvolve a cultura popular, e por isso, segue uma pequena citação dos autores: “Na cultura popular, em vez do elevado sentido, impõem-se o fascínio estético das aparências e as possibilidades de participação do povo enquanto sujeito do espetáculo, como resume em tom elitista, Rosseau: colocai no meio de uma praça um poste coroado de flores, reuni ali o povo e tereis uma festa. Melhor ainda; convertei os espectadores em espetáculos, fazei deles atores, fazei que cada um se veja e se goste dos demais para que deste modo todos se achem mais unidos”.

A ciência comunicativa explica o comportamento dos espectadores da televisão e atualmente dos internautas. Eles mantêm fortes vínculos de interação com as redes sociais virtuais. Ora, quando os internautas enviam um flagrante, geralmente está relacionado a acidentes de trânsito, a linchamento de ladrões, ou problemas sociais como o surto de dengue na capital sergipana. Já nas redes sociais, como Orkut, MySpace, Sônico, Flick, Flogão, Fotlog, YouTube, VideoLog, etc. O grotesco é ver internautas enviar vídeos e fotos de pessoas envolvidas em tragédias, como o vídeo gerado por um condutor de veículo, que flagrou um acidente na BR 101 sergipana entre um veículo pesado e um automóvel, sendo que o último ficou em chamas e levou duas pessoas a óbito. Esse vídeo foi apresentado na emissora de maior audiência sergipana e também pela respectiva página de internet. Matérias desse nível fazem a audiência crescer nos principais programas televisivos do Brasil e o formato está sendo totalmente transferido à internet. O universo grotesco de Muniz Sodré e Raquel Paiva faz parte do cotidiano dos internautas brasileiros.

No caso das redes sociais onde as pessoas fazem parte do espetáculo por meio de fotos, vídeos e slides não é muito diferente. Eles querem uma identidade própria e personalização. O intuito é da autopromoção, de se aproximar dos grupos, comunidades, amigos e paqueras. Devido a esse fato, o Orkut é sucesso no Brasil. Atualmente o site ligado diretamente ao Google mantém 60 milhões de usuários em todo o mundo, dos quais 54% são brasileiros. Já os americanos são 15,3% do total, o líder na terra de Barack Obama é o MySpace, dos 120 milhões de usuários, 76 milhões são americanos. No Brasil são somente 5% do total de usuários do MySpace e a meta é buscar a liderança de mercado nacional como nos EUA, assim como afirmaram Emerson Calegaretti e Amit Kapur, diretores da rede social MySpace em entrevista para o portal G1.com.

Nas férias do mês de julho de 2008 a internet brasileira mais uma vez quebrou o recordes de conexão residencial e no tempo médio de conexão. Em conexão chegamos a casa dos 23,7 milhões e o tempo médio foi de 24 horas e 54 minutos. Segundo o Ibope/NetRatings o Brasil assumiu a liderança em tempo médio de conexão entre os dez principais países no mundo. O motivo principal para os novos recordes para o instituto de pesquisa foi devido às férias dos alunos no mês de julho, demonstrando uma forte paixão nacional pelo mundo digital entre os jovens.

Diante de tantos números comprobatórios da internet brasileira, do comportamento dos internautas apaixonados pelas redes de relacionamentos, da exacerbação - em todos os sentidos - dos brasileiros pelo Orkut, da interação entre os usuários e os sites dos veículos de comunicação, do relacionamento das páginas das empresas e indústrias em busca de promoções ou de se tornarem conhecidos, de fazerem parte do processo da construção da informação, etc. O que os cientistas da comunicação sergipana desenvolvem em termo de conteúdo interativo entre os internautas? O que podemos fazer para melhorar o relacionamento dos internautas evitando que seja o universo de Darlenes brasileira? Como a nova geração de internautas do Brasil utiliza a rede para se educar letradamente? Será que eles buscam engrandecer o conhecimento intelectual? Tento acreditar que sim, mas fico em dúvida quando vejo o grotesco produzido pelos internautas e devorado pela emissora de TV, pelos provedores de internet, e automaticamente veiculados no veículo de massa televisão demonstrando claramente as aspirações dos internautas tupiniquins.

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